Cenário Zero

"Caro leitor que me seguiu até aqui, estou meio de porre e são três da manhã. Tudo, em verdade, se resume no seguinte: se estás vivo, um dia, surgirá um negócio mais pra acinte. Se te oferecerem nada, pede vinte. O medo é puro enredo tecido por mãe, pai e atepassados. Quem fica deitado não cai. Sábio é aquele que conhece seu lugar; conhece a esquerda e a direita do seu andar; o norte e sul da sua própria morte; o alto condor e o baixio de mortal calor. O importante, porém para a fundamental sabedoria, é conhecer seu lugar que não permite ida, volta, fuga ou partida. Sábio é o homem que vai sem sair do lugar e o homem sábio trata a longínqua galáxia como se ela fosse seu bar".

*Essa foi a 759ª noite do livro "A Milésima Segunda Noite" do amigo Fausto Wolff.

Licença Apologética

À Cicutinha ALP

Quando nasci, um anjo canhoto
desses q tocam guitarra arrotou:
morra jovem e permaneça belo.

O anjo torto só esqueceu q
roqueiro brasileiro não morre aos vinte e sete.
Esquecem e envelhecem.

De vez em quando um gringo desavisado
escuta o anjo e assina o contrato.
De mau exemplo à lenda
Alma embargada de volta à escuridão
-sem reabilitação.
Amargura é dor.

Hauser, Hauser, Kaspar Hauser
se eu me chamasse Winehouse não
seria rima e menos ainda solução.

Cenário 1 - noite

Resgatem os mineiros

Anastasiados

sob neves soterrados

Lacerta não percebem

Um mineiro sensato disse sobre a situação: Ah, é sim, é, tá mar...

Espantalho

Se

es

   pantalho funcionas
se

no

Ri

oDe

Jan

eiro

não

have

ria

vio

lência

ec-nal-on-ohlo

Para a comparsa LA

Deu um tapa na orelha dela.

Caiu no meu pé.

Uma multidão

em sístole silenciosa

violentava a cena com olhares te(n)sos.

Chutei-a bem no umbigo.

Diástole:

explosivo-ruidosos berros e abraços.

Ela morreu

no fundo das redes.

Retrastante

EGO EXCÊNTRICO

ABRAÇADO AO MEU RANCOR

O CAMPO DE BATALHA SOU EU

CATRÂMBIAS!

ME SEGURA QU'EU VOU DAR UM TROÇO

ASSIM FALOU ZARATUSTRA

Augusto Muro - poeminha à moda do sumido Vendell

Poeminha encomendado ao Vilson para homenagear (mimetizando) e quem sabe fazer aparecer o sumido Vendell.

AUGUSTO MURO

Esmurro o muro
Até criar um furo
um pequeno vão já
me deixa mais seguro

Não esmoreço, trasmudo
o urro em garra,
esmurro a faca
até a ponta entortar

Quero abolir fronteiras
construir pontes
derrubar o augúrio do muro
te abraçar e respirar.

Muros dividem, sufocam
a coletiva proteção do convívio, é
cada um por si,
nenhum por todos.

Assisto ao Floyd em "The Wall"
Paro, penso, reflito,
Derrubar muros é preciso.
É o que sinto.

*Fotos da instalação de Marcel Duchamp, chamada "Dados: 1.ºA Queda De Água, 2.ºGás de Iluminação - 1946-66", primeiro é a vista frontal da instalação e por último a vista através da porta da instalação.

Vampiros Soropositivos

Espagíria

Espagíria
potes de ouro no fim sobrepujam os montros
que, escondidos em mônadas e medos, tentam
escurecer o arcoíris que une nossos corações.

*A 1ªfoto é da srta Tarcila Clown Doll, tirada em 12/09/2009, na Praça da Estação em BH e a 2ª é do senhor Haruo Ohara, tirada em 1950, em Londrina.

Canção às primas da AP

Singela tentativa de homenagem à família da mana AP... e Dulcinéia, querida, nada de ciúmes, por favor...

Da Série: Diálogos Dicotômicos

O diálogo a seguir foi captado através de uma escuta ilegal entre seres dicotômicos; escuta ilegal, esta, devidamente autorizada pela justiça, conseguida por nosso caro Sr. Dicotômico e gentilmente cedida à mim através de chantagens dele para comigo, terminadas após ter me extorquido até o último níquel. Enfim, não venham me processar graças a esta postagem.

(...)

Velho, imagina fumar um morango!?

)acha engraçado - imagina alguém
acendendo a frutinha silvestre

Já fumou cajuzinho?

Hein?!

Cajuzinho, aquele docinho, dá o maior barato.

Velho, você é muito louco, mas esse cajuzinho despertou minha curiosidade.

Você nunca viu no Hermes e Renato os caras fumando um cajuzinho?

Não! Quê isso?

Ah, um programa da MTv.

//na verdade é a essência que é
colocada no narguilé(

Velho, imagina fumar uva...

Tava pensando nisso agora...

MERDA!

Quebrei a perna no primeiro ato.

A LUCIDEZ INCÔMODA DAS MADRUGADAS INSONES

ENXERTO DE UM POEMA AUTOBIOGRÁFICO AINDA NÃO ESCRITO

......Meu coração
.....................é
......................um motor
.................................de
..................................geladeira

Extra! Extra!

Tentando perder a timidez de mostrar os próprios e rarefeitos textos, aí vão alguns:

COMETA

antes
que
passe
o
tempo
sempre
passa
o
sempre
passa

...

EXTRA! EXTRA!

Meu estupor

........extrapola

....................qualquer convenção

...

não me encare
enquanto lhe represento com

tinta e distância

seu olhar me obriga

contornos

Entrega/Recepção

Cometer poemas
Não me incomoda, nem
...................................me faz sentir culpado/estranho
Entregá-los
...................para seus possíveis alvos
.......................................................sim
...................depois.........................me
.......................................................faz

Pod

Não há de ser nada, pensou.
Foi deixando até o dia em que ficou tudo escuro.
O filho, chamado às pressas, autorizou -dolorido sem lugar.
Acordou no quarto asséptico.
A perna não doía.