terça-feira, 21 de agosto de 2012

Lá do blog do Cláudio Willer (10/08/2012):

Teatro do Incêndio estreia segunda parte de São Paulo Surrealista: A Poesia Feita Espuma


No espetáculo de estreia, os poetas paulistas Claudio Willer e Roberto Bicelli, ícones da geração beat no Brasil, fazem participação especial interpretando a si próprios.

A Poesia Feita Espuma é a segunda parte do espetáculo São Paulo Surrealista, da Cia. Teatro do Incêndio, que cumpriu temporada de março a agosto, na casa noturna Madame. A montagem, sob direção de Marcelo Marcus Fonseca, estreia dia 17 de agosto, sexta-feira, no mesmo espaço, às 21 horas. A montagem, amparada pela estética do Surrealismo, nesta edição viaja pelo submundo paulista pela ótica poética do poeta paulista Roberto Piva.

A primeira parte do projeto apresentava um mergulho no Inferno de Dante Alighieri, mostrando a capital paulista inserida nos nove círculos da Divina Comédia, observada por Pagu e André Breton. Em São Paulo Surrealista 2: A Poesia Feita Espuma, a saga surrealista sobre a cidade prossegue, agora pelo purgatório e a caminho do céu. Apesar de se tratar de uma continuação, as peças podem ser vistas como espetáculos independentes. Segundo o diretor Marcelo Marcus Fonseca, os diálogos são baseados em depoimentos de pessoas que conviveram com Roberto Piva e na sua própria experiência ao lado dele, pois mantiveram anos de amizade. “São Paulo Surrealista 2: A Poesia Feita Espuma é um espetáculo regado pelo humor dos absurdos religiosos e pela poesia seca do submundo da capital. Tudo em um universo onírico que retrata uma cidade possível de ser vista a olhos nus, somente pela visão mística e/ou mítica de suas esquinas e cidadãos”, argumenta o diretor. O projeto foi contemplado com a 18ª edição da Lei de Fomento ao Teatro. A segunda parte da peça é um passo evolutivo na pesquisa do grupo que conta com a curadoria de Claudio Willer (também transformado em personagem no espetáculo).

Local: Madame – Rua Conselheiro Ramalho, 873 – Bela Vista/SP – Tel: (11) 2592-4474 Estreia dia 17 de agosto – sexta-feira – às 21 horas Temporada: sextas-feiras e sábados – às 21 horas – até 15/12. Ingressos: R$ 30,00 (meia: R$ 15,00), o ingresso dá direito à balada após sessão. Bilheteria: 1h antes da sessão – Aceita somente dinheiro – Duração: 70 min. Gênero: Surrealismo – Classificação etária: 18 anos – 120 lugares – Ar condicionado. Acesso universal – Estacionamento (R. Conselheiro Ramalho, 853): R$ 20,00.

O enredo: Fernando Pessoa chega à capital paulista trazido pelo mar, sendo recebido por Beatriz, musa irreal e amada de Dante. Ela reflete sobre o cidadão mecânico, que gesticula por obrigação e anuncia o teatro como salvação: neste momento uma peça do espanhol Salvador Dalí, inédita no Brasil, é representada dentro da própria encenação sob direção do mestre da pintura surrealista. Dante surge à procura de Beatriz. Ela está pregada em um quadro, mas se desprende para seguir com ele os caminhos que levam ao paraíso. Nessa trajetória invocam, do fogo, o poeta Roberto Piva e com ele parte da geração beat paulista, além do americano Allen Ginsberg. Piva tem seu tão sonhado encontro com Dante e Beatriz, envolve-se com a cidade de rap, com chacina de adolescentes e com muitas prostitutas (inclusive Neusa Sueli, personagem de Plínio Marcos). O poeta vive a deformação poética de cada rua em que passa. A caminho do céu, depois de perder de vista Dante e Beatriz, Roberto Piva vê o alinhamento dos planetas, anunciando o fim do mundo. Chega às portas do Paraíso onde é recebido por São Bernardo, Santo André e São Caetano, enquanto Deus dorme entediado: uma figura surpreendente, a partir da descoberta recente de “sua partícula” (quase impossível de se achar). Roberto Piva – embriagado de fogo paulista – trava um diálogo com Deus sobre a cidade. E lixo invade a cena como um temporal. Garis montam suas esculturas com os restos deixados pelos cidadãos, anunciando o fim do mundo.

Ficha técnica: Peça: “São Paulo Surrealista 2: A Poesia Feita Espuma”. Roteiro e direção geral: Marcelo Marcus Fonseca. Direção Musical: Wanderley Martins. Iluminação: Rodrigo Alves. Curadoria poética e suporte teórico: Claudio Willer. Espaço Cênico: Sérgio Ricardo e Marcelo Marcus Fonseca. Assistência de direção: Paula Micchi. Debatedor de ensaios: Paulo Sposati Ortiz. Fotos: Bob Sousa. Arte gráfica: Giuliano Henrique. Composições originais: Wanderley Martins e Marcelo Marcus Fonseca. Projeções: Vinícius Gusman. Produção e realização: Cia. Teatro do Incêndio. Apoio: Lei de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo. ww.teatrodoincendio.com.br

Elenco: João Sant’Ana, Wanderley Martins, Marcelo Marcus Fonseca, Sergio Ricardo, Giulia Lancellotti, David Guimarães, Sonia Molfi, Tássia Melo, Camila Araujo, Tais Luna, Lillian Almeida, Yasmine Colucci, Laís Thales, Vinícius Gusman, Barbara de Almeida, Pedro Casali, Diego Freire, Bárbara Santos, Talita Righini, Antonio Motta, Vinicius Pimentel, Cláudia Motta, Beatriz Malagueta, Pricila Lima, Caroline Marques e Vanessa Klitzke.

São Paulo Surrealista 2: A Poesia Feita Espuma, por Marcelo Marcus Fonseca:

Os poetas estão doentes. A população foi amansada na cidade onde nada mais é permitido. Só existe uma possibilidade de reparo: a palavra poética. A cidade que pariu e sufocou o poeta Roberto Piva treme com mais um ano eleitoral, como se isso importasse. Apelamos para a nova partícula descoberta e mandamos o Piva conversar com Deus, mas ele estava bêbado e tocando banjo. Em virtude desses acontecimentos, nos manifestamos solicitando:

1 – A imediata transformação do Marco Zero e dos Shopping Centers em termas de livre acesso, pela localização estrategicamente privilegiada e espaço suficiente para receber jovens em idade de curiosidade.

2 – Jaulas para os fiéis que praticam homofobia caridosa.

3 – Reflorestamento do Memorial da América Latina.

4 – Adoção da obra de Rimbaud nas escolas para adolescentes em idade de identificação com a rebeldia e feijoada na merenda.

5 – Caixas de som tocando Villa-Lobos na Avenida Paulista.

6 – Livros de poesia Beat ao lado de microfones a cada dois quarteirões, para que o cidadão possa parar e ler em voz alta durante seu trajeto.

7 – Atualização periódica do “Necrológio” de poetas e artistas inteligentes.

8 – Teatro-Samba.

9 – Taças de vinho distribuídas gratuitamente nos escritórios e agencias bancárias.

Essas, entre outras solicitações que o espectador pode sugerir, contribuindo para que a vida recupere sua vocação sensual e lírica, são nossas propostas para cada apresentação de São Paulo Surrelista 2: A Poesia Feita Espuma, onde homenageamos a cidade eternamente escondida pela hipocrisia e pelas leis corroedoras da felicidade. A segunda parte dessa produção que surgiu a partir do projeto aprovado pela Lei de Fomento ao Teatro, agrega jovens atores à Cia. Teatro do Incêndio, abrindo portas para sua manifestação artística, formação técnica e aquisição de referências literárias e estéticas em geral. É ainda um reencontro com personalidades marcantes de São Paulo e também com toda espécie de cidadão, bicho e flor que nasce no asfalto incandescente da metrópole de todas as possibilidades. O espetáculo é um ritual e, portanto, não está sujeito às ações proibitivas da lógica ou da moral. Convidamos a todos para celebrar, com os olhos voltados para as divindades desse lugar que sustenta o céu com suas colunas de edifícios.

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Glauco Mattoso - Entrelinhas

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SPIK (SIC) TUPINIK



 #2 SPIK (SIC) TUPINIK (para Paulo Verissimo) [1977] (*)

Rebel without a cause, vomito do mytho
da nova nova nova nova geração,
cuspo no prato e janto juncto com palmito
o baioque (o forrock, o rockixe), o rockão.
Receito a seita de quem samba e roquenrola:
Babo, Bob, pop, pipoca, cornflake;
take a cocktail de coco com cocacola,
de whisky e estrychnina make a milkshake.
Tem hybridos morphemas a lingua que fallo,
meio nega-bacana, chiquita-maluca;
no rolo embananado me embolo, me embalo,
soluço - hic - e desligo - clic - a cuca.

Sou luxo, chulo e chic, caçula e cacique.
I am a tupinik, eu fallo em tupinik.

http://glaucomattoso.sites.uol.com.br/quem.htm

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quinta-feira, 16 de agosto de 2012

"Use o assento para flutuar"

- O comparsa Léo Gonçalves está com livro novo saindo do forno. O livro "Use o assento para flutuar" está sendo lançado pela Editora Patuá.
À seguir, o texto do release para imprensa:
A Editora Patuá lança, no dia 21 de agosto, às 19h30, na Sala Guiomar Novaes, na Funarte (Alameda Nothman, 1058), em São Paulo, o livro Use o assento para flutuar, de Leo Gonçalves. A obra reúne poemas recentes do autor, tratando de temas contemporâneos com muita ironia e bom humor.
O terceiro livro de Leo Gonçalves, escrito entre 2005 e 2012, Use o assento para flutuar fala de tudo a que a poesia tem direito. “A poesia é palavra calcinada e por isso pode falar de tudo”, comenta Juan Gelman na orelha do livro. Do amor ao humor. Da influência da poesia caribenha e africana a um retrato do mundo pós queda das torres gêmeas, o livro traz um testemunho do zeitgeist, o espírito da época.
Ao todo, são 40 poemas, entre inéditos e reedições. “WTC Babel S. A.”, por exemplo, publicado anteriormente na forma de plaquete, em edição artesanal organizada pelo próprio autor, reaparece aqui. Há também poemas publicados anteriormente em revistas, jornais literários, sites e blogues. Marca interessante é a diversidade de técnicas e proposições presentes no livro. A unidade fica por conta de uma voz que busca a todo instante elementos de alteridade e diversidade.
Artista de múltiplas ferramentas, Leo Gonçalves é também performer, artista sonoro e visual, além de tradutor, ensaísta e divulgador da poesia do mundo. Traduziu em parceria com Mário Alves Coutinho o livro Canções da inocência e da Experiência, de William Blake, obra que ficou entre as 50 indicadas do site Uol em 2005. Em parceria com Andityas Soares de Moura, traduziu Isso, de Juan Gelman, publicada na coleção Poetas do Mundo da UnB. Traduziu também a peça O doente imaginário de Molière, atualmente em sua segunda edição. Além dessas obras publicadas em livro, também traduziu para revistas literárias poetas como Aimé Césaire, Léopold Sédar Senghor, William Burroughs, Allen Ginsberg, Heriberto Yépez, Gérard de Nerval, Tristan Tzara e muitos outros.
Com seu trabalho de performance, Leo Gonçalves apresenta, durante o evento de lançamento de Use o assento para flutuar, ao lado de Franciane de Paula, o espetáculo Poemacumba, em que une poesia e dança. Poemacumba é uma saudação às tradições africanas e às divindades do panteão banto conhecidas como inquices nos candomblés brasileiros.

Lançamento: Use o assento para flutuar de Leo Gonçalves
Em São Paulo
Quando: 21 de agosto, terça-feira
Onde: Funarte SP – Sala Guiomar Novaes
Horário: das 19h30 às 22h
Endereço: Alameda Nothman, 1058
Telefone: (11) 3662-5177
Na noite haverá também a estreia da performance Poemacumba, com Leo Gonçalves e Franciane de Paula

Em Londrina:
Quando: 24 de agosto, sexta-feira
Onde: SESI
Horário: a partir das 17h30
Endereço: CULTURAL Praça 1º de maio (em frente à Concha Acústica)
O lançamento faz parte da programação do Londrix – Festival Literário de Londrina, no qual o autor participará com outras atividades.

Em Belo Horizonte:
Quando: 15 de setembro, sábado
Onde: Casa Una
Horário: a partir das 14h
Endereço: Rua Aimorés, 1.451
Telefone: (31) 3235-7314
Coquetel de Lançamento

Em Paraty:
Quando: 20 de setembro, quinta-feira
Onde: Casa de Cultura
Horário: 17h
Endereço: Rua Dona Geralda, 177
Telefone: (24) 3371-2325
O evento começa com um bate-papo sobre cultura afro-brasileira com o autor e personalidades da cidade, seguido da apresentação do Poemacumba, roda de jongo, cortejo de maracatu e o lançamento do livro

Texto da contra-capa:
Uma lírica de fios tensos, uns; desencapados, outros; partidos e irremediavelmente soltos, alguns mais – a que nos oferece Leo Gonçalves neste livro em que a ironia se constitui, já desde o título, como um elemento estruturante e, a comprovar a pertinência de seu uso, desestruturador. Que não se espere encontrar um poeta reverente a qualquer linhagem das inúmeras que se entrechocam no populoso e confuso ambiente da poesia contemporânea.
O poeta, neste livro de muitas vozes – interrompidas –, propõe-se como aquele um que percebe, mal iniciada sua fala, a intromissão, nela, de (cito as palavras iniciais de Michel Foucault em A ordem do discurso) “uma voz sem nome”, a qual, trazendo-o de volta para “além de todo começo possível”, não lhe deixa outra opção que a de figurar como “uma estreita lacuna, o ponto de seu desaparecimento possível”.
Hábil artífice da própria desaparição como “autor”, Leo Gonçalves como que faz da página um espaço análogo ao corpo – que ele, também um performador de muitos recursos, toma como espaço –, permeável à movência das “coisas do mundo, minha nega (Paulinho da Viola)” e à circularidade do tempo, como bem deve fazer quem diz ter partes com Exu, o trickster da tradição iorubá: “eu canto o corpo orgânico com ou sem órgãos/ eu canto as palavras velhas/ não digo nada de novo/ minhas palavras são mais velhas que o fogo/ a língua que se falava antes de babel/ o que já foi dito um milhão de vezes por todos”.
Uma “estreita lacuna” por onde passa, não tudo, mas: o que passa. Alguém parece ter entendido o novo papel do poeta, neste tempo em que “nossa poesia”, John Cage dixit, “é a / consciência/ de que/ não possuímos/ nada/ .”
Ricardo Aleixo
01ago12

- Lembro da época em que trocava umas idéias com o Léo aqui em BH, na Livraria onde ele trabalhava e um dia ele ter falado do poema que dá título ao livro. O poema era um embrião ainda. Lembro do olhar faiscante encantado com a expressão "Fasten Seat Belt" e sua tradução, a correlação das palavras, etc.
Muito bom ver poema e livro prontos. Já encomendei o meu... Grande abraço, Léo! É mister cantar! Aliás, É MISTER FLUTUAR!

Alguns poemas do livro:

AEROPLANOS

planos para o próximo ano
aeroplanos
se a cabine despressurizar
carabinas como estas apontarão para a
sua cara
não há saídas de emergência
fasten seat belt
use o assento para flutuar
para o próximo ano
aeroplanos

***

ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA

fazer poemas como edifícios
por onde ninguém suba
o leitor pare à porta e cisme
andar por todos os andares
cômodos apartamentos brancos
paredes comodamente brancas
de todos os cômodos brancos
de todos os andares
e incômodo
súbito suba a si assíduo
a tudo ou quase tudo na brancura
apartado no apartamento
imóvel se anuncia
delira se especula oscila
eis que logo
livro das mudanças
a vaga vira viagem
o plano vira piloto
branco de improviso
o poema se aperta
vira vaga de vento voo
se desmancha noir
poema que de difícil
surge ofídio, físsil
na muda: poema-edifício
e apagada na mesma brancura
a palavra ascensor
é engolida pelo autor
cifrões alados são jogados
em doce desperdício
ouve-se um cântico de cura
e um grito de loucura
é lançado pelo maldito
que insiste em falar de amor

***

TRANSATLÂNTICO

adiar o dia de sair do mar
se enturmar com o mar
sem querer domar o mar
ser do mar
fazer com que o mar
em ser espelho olhe-se
no acordo do céu
sem horizontes nem limites
aceitar que o mar
em sendo mar se torne léu
sereia e todo ser
que se molha que se olha
em cada pele cada prole
tornar-se ele pele com pele
formar brânquias
formar guelras
e barbatanas
para estar no mar
querer morar no mar
esquecer os dias de adiar
e se espraiar por lá
pacificamente
atravessar o mar
num barco a vela
num transatlântico
ou num vapor
seguir por onde for
seguir por onde o vento indicar
ouvir as conchas ler os búzios
e deixar-se levar
deixar-se levar no mar
morrer no mar dormir no mar
beber o mar viver o mar
infinitivo mar

***

pena que o arrudas não é mais potável
depois daquele porre que tomamos
madrugada preta na cidade mais careta do brasil
no ano de 1933
rebolamos nossa nudez
pela manhã esturricada
e mandamos a cidade para a puta que pariu

pena que o arrudas não é mais potável
a caretice venceu com medo
não queriam ver uma vez mais as nossas bundas
se entreolhavam de maneira tão amável
balançando como num samba
a malícia das velhinhas já corcundas
que buscavam baldes na cheia do rio

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quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Ricardo Aleixo


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