quinta-feira, 16 de agosto de 2012

"Use o assento para flutuar"

- O comparsa Léo Gonçalves está com livro novo saindo do forno. O livro "Use o assento para flutuar" está sendo lançado pela Editora Patuá.
À seguir, o texto do release para imprensa:
A Editora Patuá lança, no dia 21 de agosto, às 19h30, na Sala Guiomar Novaes, na Funarte (Alameda Nothman, 1058), em São Paulo, o livro Use o assento para flutuar, de Leo Gonçalves. A obra reúne poemas recentes do autor, tratando de temas contemporâneos com muita ironia e bom humor.
O terceiro livro de Leo Gonçalves, escrito entre 2005 e 2012, Use o assento para flutuar fala de tudo a que a poesia tem direito. “A poesia é palavra calcinada e por isso pode falar de tudo”, comenta Juan Gelman na orelha do livro. Do amor ao humor. Da influência da poesia caribenha e africana a um retrato do mundo pós queda das torres gêmeas, o livro traz um testemunho do zeitgeist, o espírito da época.
Ao todo, são 40 poemas, entre inéditos e reedições. “WTC Babel S. A.”, por exemplo, publicado anteriormente na forma de plaquete, em edição artesanal organizada pelo próprio autor, reaparece aqui. Há também poemas publicados anteriormente em revistas, jornais literários, sites e blogues. Marca interessante é a diversidade de técnicas e proposições presentes no livro. A unidade fica por conta de uma voz que busca a todo instante elementos de alteridade e diversidade.
Artista de múltiplas ferramentas, Leo Gonçalves é também performer, artista sonoro e visual, além de tradutor, ensaísta e divulgador da poesia do mundo. Traduziu em parceria com Mário Alves Coutinho o livro Canções da inocência e da Experiência, de William Blake, obra que ficou entre as 50 indicadas do site Uol em 2005. Em parceria com Andityas Soares de Moura, traduziu Isso, de Juan Gelman, publicada na coleção Poetas do Mundo da UnB. Traduziu também a peça O doente imaginário de Molière, atualmente em sua segunda edição. Além dessas obras publicadas em livro, também traduziu para revistas literárias poetas como Aimé Césaire, Léopold Sédar Senghor, William Burroughs, Allen Ginsberg, Heriberto Yépez, Gérard de Nerval, Tristan Tzara e muitos outros.
Com seu trabalho de performance, Leo Gonçalves apresenta, durante o evento de lançamento de Use o assento para flutuar, ao lado de Franciane de Paula, o espetáculo Poemacumba, em que une poesia e dança. Poemacumba é uma saudação às tradições africanas e às divindades do panteão banto conhecidas como inquices nos candomblés brasileiros.

Lançamento: Use o assento para flutuar de Leo Gonçalves
Em São Paulo
Quando: 21 de agosto, terça-feira
Onde: Funarte SP – Sala Guiomar Novaes
Horário: das 19h30 às 22h
Endereço: Alameda Nothman, 1058
Telefone: (11) 3662-5177
Na noite haverá também a estreia da performance Poemacumba, com Leo Gonçalves e Franciane de Paula

Em Londrina:
Quando: 24 de agosto, sexta-feira
Onde: SESI
Horário: a partir das 17h30
Endereço: CULTURAL Praça 1º de maio (em frente à Concha Acústica)
O lançamento faz parte da programação do Londrix – Festival Literário de Londrina, no qual o autor participará com outras atividades.

Em Belo Horizonte:
Quando: 15 de setembro, sábado
Onde: Casa Una
Horário: a partir das 14h
Endereço: Rua Aimorés, 1.451
Telefone: (31) 3235-7314
Coquetel de Lançamento

Em Paraty:
Quando: 20 de setembro, quinta-feira
Onde: Casa de Cultura
Horário: 17h
Endereço: Rua Dona Geralda, 177
Telefone: (24) 3371-2325
O evento começa com um bate-papo sobre cultura afro-brasileira com o autor e personalidades da cidade, seguido da apresentação do Poemacumba, roda de jongo, cortejo de maracatu e o lançamento do livro

Texto da contra-capa:
Uma lírica de fios tensos, uns; desencapados, outros; partidos e irremediavelmente soltos, alguns mais – a que nos oferece Leo Gonçalves neste livro em que a ironia se constitui, já desde o título, como um elemento estruturante e, a comprovar a pertinência de seu uso, desestruturador. Que não se espere encontrar um poeta reverente a qualquer linhagem das inúmeras que se entrechocam no populoso e confuso ambiente da poesia contemporânea.
O poeta, neste livro de muitas vozes – interrompidas –, propõe-se como aquele um que percebe, mal iniciada sua fala, a intromissão, nela, de (cito as palavras iniciais de Michel Foucault em A ordem do discurso) “uma voz sem nome”, a qual, trazendo-o de volta para “além de todo começo possível”, não lhe deixa outra opção que a de figurar como “uma estreita lacuna, o ponto de seu desaparecimento possível”.
Hábil artífice da própria desaparição como “autor”, Leo Gonçalves como que faz da página um espaço análogo ao corpo – que ele, também um performador de muitos recursos, toma como espaço –, permeável à movência das “coisas do mundo, minha nega (Paulinho da Viola)” e à circularidade do tempo, como bem deve fazer quem diz ter partes com Exu, o trickster da tradição iorubá: “eu canto o corpo orgânico com ou sem órgãos/ eu canto as palavras velhas/ não digo nada de novo/ minhas palavras são mais velhas que o fogo/ a língua que se falava antes de babel/ o que já foi dito um milhão de vezes por todos”.
Uma “estreita lacuna” por onde passa, não tudo, mas: o que passa. Alguém parece ter entendido o novo papel do poeta, neste tempo em que “nossa poesia”, John Cage dixit, “é a / consciência/ de que/ não possuímos/ nada/ .”
Ricardo Aleixo
01ago12

- Lembro da época em que trocava umas idéias com o Léo aqui em BH, na Livraria onde ele trabalhava e um dia ele ter falado do poema que dá título ao livro. O poema era um embrião ainda. Lembro do olhar faiscante encantado com a expressão "Fasten Seat Belt" e sua tradução, a correlação das palavras, etc.
Muito bom ver poema e livro prontos. Já encomendei o meu... Grande abraço, Léo! É mister cantar! Aliás, É MISTER FLUTUAR!

Alguns poemas do livro:

AEROPLANOS

planos para o próximo ano
aeroplanos
se a cabine despressurizar
carabinas como estas apontarão para a
sua cara
não há saídas de emergência
fasten seat belt
use o assento para flutuar
para o próximo ano
aeroplanos

***

ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA

fazer poemas como edifícios
por onde ninguém suba
o leitor pare à porta e cisme
andar por todos os andares
cômodos apartamentos brancos
paredes comodamente brancas
de todos os cômodos brancos
de todos os andares
e incômodo
súbito suba a si assíduo
a tudo ou quase tudo na brancura
apartado no apartamento
imóvel se anuncia
delira se especula oscila
eis que logo
livro das mudanças
a vaga vira viagem
o plano vira piloto
branco de improviso
o poema se aperta
vira vaga de vento voo
se desmancha noir
poema que de difícil
surge ofídio, físsil
na muda: poema-edifício
e apagada na mesma brancura
a palavra ascensor
é engolida pelo autor
cifrões alados são jogados
em doce desperdício
ouve-se um cântico de cura
e um grito de loucura
é lançado pelo maldito
que insiste em falar de amor

***

TRANSATLÂNTICO

adiar o dia de sair do mar
se enturmar com o mar
sem querer domar o mar
ser do mar
fazer com que o mar
em ser espelho olhe-se
no acordo do céu
sem horizontes nem limites
aceitar que o mar
em sendo mar se torne léu
sereia e todo ser
que se molha que se olha
em cada pele cada prole
tornar-se ele pele com pele
formar brânquias
formar guelras
e barbatanas
para estar no mar
querer morar no mar
esquecer os dias de adiar
e se espraiar por lá
pacificamente
atravessar o mar
num barco a vela
num transatlântico
ou num vapor
seguir por onde for
seguir por onde o vento indicar
ouvir as conchas ler os búzios
e deixar-se levar
deixar-se levar no mar
morrer no mar dormir no mar
beber o mar viver o mar
infinitivo mar

***

pena que o arrudas não é mais potável
depois daquele porre que tomamos
madrugada preta na cidade mais careta do brasil
no ano de 1933
rebolamos nossa nudez
pela manhã esturricada
e mandamos a cidade para a puta que pariu

pena que o arrudas não é mais potável
a caretice venceu com medo
não queriam ver uma vez mais as nossas bundas
se entreolhavam de maneira tão amável
balançando como num samba
a malícia das velhinhas já corcundas
que buscavam baldes na cheia do rio

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