sábado, 5 de setembro de 2009

Um ano depois

Queria escrever algo especial para meu querido amigo Fausto, mas tô à beira das lágrimas em uma lan-house. Um ano após ele ter partido para outra dimensão (já deve ter fumado um charuto com Cortázar, jogado cartas com Marx, analisado os sonhos de Freud e bebido um bom uísque com os amigos que por lá encontrou), a vida continua, o mundo continua girando e a falta de seus textos diários no Jornal do Brasil nos deixa um pouco mais burros e desamparados para entender a loucura cotidiana. Mas sua obra permanece e dela continuo tirando forças e sabedoria para continuar. Quem quiser ler homenagens e memórias sobre o grande Fausto dê uma olhada no O LOBO.

A seguir textos publicados no JB de hoje:

Um ano depois, alguns anos antes

Acaminho do Bip Bip, mistura de boteco e útero de pai (sim, a voz carinhosa do boteco tem imensas barbas brancas e chama-se Alfredinho), confiro as manchetes de primeira página na banca de jornais quase esquina com Nossa Senhora de Copacabana e penso: o que será que o Fausto Wolff pensaria, diria e escrevia em sua coluna diária no Caderno B deste Jornal do Brasil?
Penso no Fausto porque faz um ano que o mais ferrenho texto da imprensa brasileira cantou para subir (os pássaros sobem cantando, e em seu penúltimo livro, O ogro e o passarinho, ele poemou sobre as paixões mais difíceis). Porque o Bip Bip é o bar onde algumas vezes bebemos, numas nos entendemos e noutras nos desentendemos, ferrenhamente.
As manchetes – que só serviriam para futucar ainda mais a indignação gaúcha e quase de berço do Faustino – versam (no mau sentido!) sobre maracutaias palacianas, compadrios de Senado, concertos desafinados de Câmara, injustiças do Judiciário e a pasmaceira que transforma imbecis de latas em ídolos de barro. Aí penso também no Aldir, amigo querido do velho lobo de todas as horas, sobretudo das últimas, e cantarolo, com os meus botões: “Todo mundo afana, da gangue do Escadinha ao seu Bacana/ Mas a Falange Vermelha, ao menos governa em cana”.
Penso no Fausto Wolff porque do dia em que ele pôs o ponto final em seu último artigo, aos dias de hoje, nada mudou; e o que mudou foi para pior. Penso no Fausto porque, depois de ver o Sarney na TV, choramingando o afeto de avô com a caneta alheia, fico esperando as reações mais violentas das penas dos coleguinhas e não sinto a fúria. Aí, sinto pena. Aí, penso novamente no Fausto e nesses 365 dias sem a sua verve vermelha de ódio.
E também penso no Fausto de antes, de muito antes. Do Pasquim, da Bundas e do Pasquim 21. Nas duas últimas publicações, estivemos juntos.
No Jornal do Brasil também (eu editava o Caderno B quando o indomável Wolffenbufftel começou a publicar em suas páginas).
Mais se desentendendo do que se entendendo, mas jamais deixando faltar o respeito nem a admiração.
Já perdemos o Fausto; cuidemos para não perder a ternura, nem a vergonha.
*Texto de Luís Pimentel, jornalista e escritor, no JB de 05/09/2009.
Carta para mein lieb, lá no além
Fausto, mein lieb wolffenbitle, parece que não mas já faz um ano que nos deixaste para observar tudo aí de cima, sem a urgência dos fechamentos e deadlines...
Que ironia, pois foi noutro dia que voce me cobrou pelo desenho que não eternizei na parede da sua casa, aquela parede branca que nos contemplava como um templo impróprio do nosso tempo que passava...
Meu consolo (epa!) é que daí você pode ver tudo melhor, sem pressa de julgar, já sabendo a priori dos desenvolvimentos absolutamente previsíveis de tudo o que estava por vir; o pit-bull de batom sendo sodomizado pelo vira-latas do Obama, o Zé Ribamar do Sir Ney singrando rio acima até o coração do Luiz Inácio, a Carla Bruni, la femme de la patrie do Sarkozy, essas coisas todas. Ignóbeis, como estes dias que correm.
Mas é bom que você saiba, ainda hoje procuro você no jornal. Eu e mais um séquito de adoradores que, assim como eu, sabem que, por mais distante que estejas da estante, reinas soberano sobre nós e por sobre todos os desvalidos que, como você, foram chamados pra cima mais cedo.
Pela inconsequência de nossos atos e de alguns bem mais poderosos do que nosotros, incluindo Hugo Chaves y sus Correas sin Morales.
A Mônica, querida, está se refazendo, meu irmão virando rei da noite com o Cabaré Caruso e eu sigo o baile.
O Jaguar vez em quando chama um Underberg pra celebrar e o Ziraldo lança mais um livro, um filme ou o que quer que seja, enquanto espera a hora pra te encontrar e fazer as pazes.
Como diria o triste bluesman Cassiano, naquela balada triste, “...mais um ano se passou, e nem sequer ouvi falar seu nome...” Um beijo nessa vasta bochecha.
*Texto do cartunista Paulo Caruso, no JB de 05/09/2009.
-Vejam o Desenho do adeus, feito ano passado, também por Paulo Caruso.


Saudade Faustão, tá fazendo muita falta aqui...

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1 Comentários:

Blogger Sr. D. Fontoura disse...

Outro que está fazendo muita falta é o maior colunista social que já tivemos notícia, o grande, o único: Nataniel Jebão.
E sobre o Fausto, Nataniel Jebão disse:
"Fausto Wolff é alcóolatra, decadente, jogador e comunista, mas tem seu lado bom".

11 de setembro de 2009 às 18:44  

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